terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O que nos reserva o futuro depois da decisão de Soares Franco?

Após largos dias sem poder intervir no blog fundamentalmente por motivos profissionais, estou de volta "ao activo" e regresso à normalidade no que à discussão da realidade Sporting diz respeito.
Os últimos dias deram conta da decisão de nao recandidatura de Soares Franco à Presidência do Sporting, contra todas as previsões e especulações que se fizeram ao longo de toda uma semana.
Depois de se debater com um plano/projecto que assentava em dois pontos base, ou seja, a emissão de VMOC's (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis) no valor de 55 milhões de euros, por parte da Sporting, SAD e a passagem dos direitos televisivos da Sporting Comércio e Serviços do clube para a SAD, Soares Franco abdicou da sua recandidatura e deixou em aberto um lugar para o qual, até ao momento, não se perspectivam nomes seguros para a "luta". Só faltou mesmo propor que a Academia passasse para a SAD.
Sou um leigo no que ao "corporate finance" diz respeito, mas que vantagem terá a passagem de tanto património para a SAD? Praticamente nenhuma ou nenhuma! É que, se, no futuro, a vida empresarial da SAD tiver um destino menos feliz, o Sporting Clube fica sem nada no seu património! É tão simples como isso! Vantagens? Só o facto da SAD ficar com um maior e mais valioso volume de activos e uma consequente maior credibilidade perante terceiros, nomeadamente, perante a Banca.
Há um facto que me parece incontornável, ou seja, o futuro Presidente do Clube terá "forçosamente" de ser alguém com créditos firmados quer a nível profissional quer a nível de relação meritória e de confiança perante a Banca. Nomes possíveis até ao momento? Vejo apenas 3: Bettencourt, Ernesto Ferreira da Silva ou Rogério Alves. Que me perdoem os leitores, mas, por ora, fixar-me-ei apenas no primeiro. Há poucos dias, deu uma entrevista ao jornal "Record". Entre outros comentários, numa aparente tentativa de auto-promoção com vista à Presidência do Clube, retiro as frases que se seguem:
- “Esta via que estamos a seguir, se nada fizermos, pode ser uma via de empobrecimento porque os juros e o capital são para ser pagos e do lado dos activos temos rendas de um centro comercial e de um edifício. E nada nos garante que o inquilino não possa mudar de prédio ou que os inquilinos do centro comercial nos paguem as rendas”.
- “A questão que se põe é esta: um clube que tem uma sociedade desportiva tem a legitimidade e vocação/competência para gerir risco imobiliário contra passivo financeiro? Na minha opinião, não tem nem nunca teve”.
- “A alienação é um acto de gestão perfeitamente normal”.
- “Quando descobrimos um Liedson que custou 600 mil euros, fomos enxovalhados por que era um lingrinhas e um rapaz que trabalhava num supermercado. Hoje é público que o Deivid custou bastante mais do que Polga e Liedson juntos”.
Pergunto eu, de acordo com a ordem dos comentários acima:
- Será legítimo, sem mais, questionar a capacidade do Sporting em suportar os investimentos, sobretudo quando o estudo que os originou foi provavelmente falseado de forma a permitir os negócios que interessavam fazer? Mais remeto para o que acima disse no que às nulas vantagens tem a decisão de se passar tudo e mais alguma coisa para a SAD!
- Vocação certamente não terá a SAD, mas não será claro e óbvio que responsabilidade indirecta não deixa de a ter certamente com os investimentos que decide fazer? Então não terá sempre responsabilidade pelo passivo financeiro?
- Concordo que a alienação seja um acto de gestão normal, mas daí a ser perfeitamente normal, em forma de regabofe desenfreado de delapidação do património do Sporting Clube, não será de discordar, por fim, com tal afirmação?
- É de mim, ou não é público que o Liédson custou 3 milhões de euros?
Com os comentários que fiz não quero dizer que o Dr. Bettencourt seja uma individualidade a descartar para futuro Presidente. No entanto, do que li da dita "entrevista", não gostei particularmente dos excertos a que fiz referência e não sei até que ponto não terá sido um arranque menos bom para uma eventual candidatura.

4 comentários:

Anónimo disse...

Primeiro de tudo votos de um excelente 2009 para ti e para todos os participantes deste blog.

Em Segundo, parabéns pela eleição do CR7 como o melhor do mundo. Mais um das escolas do Sporting eleito como o melhor do mundo depois do Figo, e esse feito demonstra muita coisa.

Em terceiro, e sendo eu benfiquista admito que fiquei muito supresso, pela negativa, com a decisão tomada pelo Soares Franco.

Em quarto, queria deixar uma questão. Para quando a tua candidatura Luidgi?

Saudações

ALVES ALMEIDA disse...

1.Excelente análise que subscrevo na íntegra;
2.Quero acreditar nas pessoas e tenho, ou tinha até agora, simpatia por estes gestores do Sporting, ...., mas na verdade não percebo esta teimosia e pressa de transferir para a SAD determinados patrimónios, quando se sabe que corremos o rico, O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, claro, de perder a maioria quando as VMOC's se vencerem;
3.Os meus conhecimentos económico/financeiros são insuficientes para analisar correctamente esta problemática....mas que ando descontente e desconfiado...ando pois...
4.Por ultimo, não percebo a transferência da Academia para a SAD...então não temos pessoas competentes no Clube, para daqui a tres ou quatro anos sermos nós clube a negociar os terrenos e consequentes mais valias resultantes do salto qualitativo do famigerado TGV e das nova ponte...????vamos dar o oiro ao ....
5Hoje enviei-te dois comunicados da ASSSOCIAÇÃO DE ADEPTOS SPORTINGUISTAS, que salvo algum radicalismo aconselho a ler...bem como o Blog.


ABRAÇOS E SAUDAÇÕES LIONÍSTICAS

Ludgi disse...

Caro Sebastian,
Antes de mais, é obviamente positiva a nota de destaque da votação do Cristiano Ronaldo como o melhor do mundo. É sinal que a formação e os seus responsáveis, nomedamente o Sr. José Manuel Torcato e o Sr. Luís Silva, entre muitos outros, estão muito bem e continuam a recomendar-se, para nossa fortuna!
Quanto ao Dr. Soares Franco...pode ser que me engane, mas às tantas, há males que vêm por bem. A equipa de futebol e seus dirigentes está bem, estável e com aspirações legítimas ao título. Mas o que fazem esses senhores dirigentes...é outra loiça e o Sporting Clube corre perigo, ou então dentro de pouco tempo seremos um outro Chelsea, às mãos de um Abramovic qualquer que por aí apareça.
A minha candidatura...é um sonho, quem sabe um dia? Mas o que é facto é que quem tem "pasta" tem legitimidade; quem tem uma vida dura de trabalho mas sem ganhar aos milhares...não tem. A verdade é esta.

Ludgi disse...

Caro Zé Carlos,
Queremos acreditar nas pessoas que comandam o clube do nosso coração. E, no meio de tantas verdades e inverdades que corroem esse negócio chamado futebol, é já difícil saber em quem podemos acreditar. Legítimas são as nossas desconfianças? Talvez sim, talvez não. Será que corre o mundo do futebol para uma vitória das SAD's sobre os clubes ou o inverso?
Pelo facto de tu o teres referido - e bem - passo a transcrever, na íntegra, o comunicado da AAS (Associação de Adeptos Sportinguistas):
"Como é do conhecimento público, o presidente da Direcção do Sporting Clube de
Portugal apresentou os seus planos para a reestruturação financeira do clube.
Anunciado como um novo plano, importa recordar que em anterior Assembleia-Geral
as medidas agora propostas foram recusadas pelos associados do Sporting Clube de
Portugal. Razão pela qual aparecem de novo, camufladas num “novo” plano de
reestruturação financeira.
O “novo” plano assenta em dois pontos basilares :
1. Emissão de VMOCs (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis) no valor de
55 M€, por parte da Sporting, SAD
2. Passagem dos direitos televisivos da Sporting Comércio e Serviços do clube para a
SAD a troco de 55M€.
É crucial para o futuro do Sporting Clube de Portugal que todos entendam o que está
em causa, antes de criticarem ou manifestarem apoio a estas medidas.
A figura das VMOCs obriga o emitente – Sporting SAD, no caso – a proceder ao
reembolso do valor em espécie, na data de vencimento. No caso, propõe-se que o
reembolso seja efectuado através da entrega de acções da Sporting SAD. Se for tido
em conta o valor actual do capital social da Sporting SAD – 40M€, facilmente se
percebe que o Sporting deixará de ter qualquer hipótese de ter a maioria do capital
da SAD após o vencimento das VMOCs.
A emissão de VMOCs foi objecto de decisão na Assembleia Geral de Maio de 2008, ou
seja, há menos de um ano.
Aliada a esta operação, surge a “venda” dos direitos televisivos da Sporting Comércio
e Serviços à Sporting SAD no valor de 55M€. Valor este utilizado, posteriormente,
para abater o passivo do clube. É ainda de realçar que um dos accionistas da Sporting
SAD detém o monopólio de negociação dos direitos televisivos nos campeonatos
profissionais portugueses.
Mais uma vez, esta deliberação foi levada à consideração dos associados do Sporting
na assembleia magna de Maio de 2008. A direcção do clube pretende colocar
novamente a votos esta mesma medida. E, mais uma vez, se impõe a pergunta:
porquê nova deliberação quando esta já foi a votos?
Paralelamente, prepara-se um Congresso Leonino onde um dos temas em análise é
precisamente o “Modelo de Sustentabilidade Financeira do clube”.
Não será legítimo que os associados pretendam dar valor a esse mesmo Congresso e
adiar eventuais medidas desta dimensão para depois do Congresso? Não será de
esperar moções interessantes por parte dos diversos associados que permita outro
tipo de plano de reestruturação financeira para o Sporting Clube de Portugal?
Não será também legítimo respeitar as decisões anteriormente tomadas em
Assembleia-Geral do clube (o orgão máximo do Sporting Clube de Portugal) pelos
sócios ?
Nós, na AAS, exigimos que tal orgão estatutário seja respeitado e não sejam
tomadas, pelo menos até final deste mandato, medidas hipotecárias do futuro do
Sporting Clube de Portugal.
Nós, na AAS, não nos revemos num clube-empresa onde os associados se tornam
meros consumidores com as nefastas consequências que daí advêm : 27.000 sócios
efectivos com as quotas em dia e uma grave crise de "militância". Com as dramáticas
situações que outros clubes-empresa atravessam nos dias de hoje – Chelsea à venda,
Newcastle United abandonado por anterior dono, por exemplo. Veja-se o exemplo do
Hamburger SV. Clube que compete na exigente Liga alemã mas que, evitando a
“entrada do negócio no seu futebol”, se mantém hoje apenas como uma Associação e
compete pelos primeiros lugares da I Liga Alemã – está actualmente a apenas dois
pontos do I classificado.
Nós, na AAS, vemos as SADs como uma imposição legal como forma de aumentar o
rigor e a transparência na gestão dos clubes em Portugal e não o contrário.
“Porque o futebol deve ser um desporto de alta-competição gerido como um negócio
e não o contrário” – Andy Durnham, Secretário de Estado do Desporto em Inglaterra.
Declaração emitida em Londres, no Congresso da organização Supporters Direct para
a qual a AAS foi convidada.
Foi lá que o futebol nasceu. Foi lá que algumas destas situações se manifestaram
pela primeira vez. Aprendamos, de vez, com os erros dos outros.
Pelo presente, e sobretudo pelo futuro do Sporting Clube de Portugal!
Comité Executivo
Associação de Adeptos Sportinguistas, AAS."